segunda-feira, 30 de novembro de 2015

665. Dez dentes doentes por português: retrato de um país em que quase todos já tiveram uma cárie

"O grande problema é termos um valor muito elevado de dentes perdidos devido a cárie, seguramente porque as pessoas procuram o dentista muito tarde”, sublinha o coordenador do Programa da Saúde Oral da Direção-Geral da Saúde. Apenas 3% dos adultos em Portugal nunca tiveram problemas de cáries dentárias, com a situação a agravar-se nos idosos, que têm ainda em média 11 dentes totalmente perdidos, segundo um estudo oficial.
O III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, a que a agência Lusa teve acesso, foi realizado em cinco grupos etários representativos da população regional e nacional portuguesa, de acordo com critérios recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pela primeira vez foram incluídos grupos etários da população adulta no Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, com as crianças, já anteriormente estudadas, a revelarem "melhorias significativas" na sua saúde dentária.
"O grupo dos 35-44 anos é a grande surpresa do estudo nacional. Praticamente todas as pessoas já tiveram contactos com cárie. Só 3% dos adultos em Portugal nunca tiveram problemas de cárie. A partir de uma determinada idade, podemos esperar que todos os portugueses têm ou tiveram problemas relacionados com a saúde dentária", afirmou em entrevista à agência Lusa o coordenador do Programa da Saúde Oral da Direção-Geral da Saúde, Rui Calado. O estudo identificou uma média de 10,3 dentes com problemas por pessoa, mas concluiu que quase cinco daqueles dentes se encontram já tratados, havendo ainda quatro que são dentes perdidos.
"O grande problema é termos um valor muito elevado de dentes perdidos devido a cárie, seguramente porque as pessoas procuram o dentista muito tarde. Mas o acesso a medicina dentária existe e verificou-se, porque dos 10,3 com problemas, só 1,5 estão por tratar", explicou Rui Calado. "Aliás, os níveis de adesão, de acesso, são novidades para nós. Estávamos à espera de piores níveis de acesso. O que acontece é que as pessoas têm acesso mas procuram os dentistas muito tarde", acrescentou.
No grupo dos idosos, entre os 65 e os 74 anos, há uma média de 15 dentes doentes por cada pessoa, sendo que 11,5 são dentes já totalmente perdidos, em relação aos quais a única alternativa é a reabilitação através de próteses. "A única solução é a reabilitação. A forma tem de ser pensada e estudada, porque qualquer conta, por mais ligeira que seja, nos indica que estamos a falar de valores astronómicos, se quisermos fazer uma intervenção pública", ressalvou o coordenador do Programa de Promoção de Saúde Oral.
Em relação às crianças, a DGS diz ter ficado claro "os ganhos de saúde em função do desenvolvimento do Programa" (que fornece os cheques-dentista, entre outras intervenções), com mais de metade das crianças de seis e de 12 anos a estarem totalmente livres de cáries e com todos os dentes saudáveis. A média de dentes com problemas é de 1,6 nas crianças de seis anos e de 1,2 nas crianças de 12, indicadores que se reduziram para metade quando comparados com o que se encontrou no estudo feito em 2000.
"Temos uma excelente situação de saúde dentária nas crianças até aos 12 anos de idade", vincou Rui Calado, considerando que a aplicação de selantes promovida pelo Programa de Saúde Oral tem estado a funcionar, bem como os tratamentos realizados através dos cheques-dentista. O Programa Nacional de Saúde Oral, que tem sido desenvolvido em parceria com a Ordem dos Médicos Dentistas, promove a aplicação de selantes de fissuras em molares permanentes saudáveis em crianças e permite ainda outros tratamentos através de cheques-dentista facultados aos 7, 10, 13 e 15 anos.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

664. Despacho n.º 12889/2015

A Portaria n.º 301/2009, de 24 de março, veio regular o funcionamento do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, no que respeita à prestação de cuidados de saúde oral personalizados, preventivos e curativos, ministrados por profissionais especializados, proporcionando, ao longo dos anos, o acesso a cuidados de saúde oral a diversos grupos -alvo. Neste momento, beneficiam deste Programa as crianças e jovens com idade inferior a 16 anos, as grávidas seguidas no Serviço Nacional de Saúde, os beneficiários do complemento solidário para idosos e os utentes infetados com o vírus do VIH/SIDA. Através do Despacho n.º 686/2014, de 6 de janeiro, o referido Programa foi alargado, passando a incluir, ainda, a intervenção precoce no cancro oral.
Neste contexto, o III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais veio revelar que nos últimos anos se verificou, por um lado, uma acentuada redução nos níveis de doença das crianças e jovens que beneficiaram de um longo trabalho de promoção e prevenção das doenças orais e, por outro lado, um aumento do número e da eficácia dos tratamentos efetuados, o que proporcionou uma enorme melhoria da situação de saúde dentária deste grupo -alvo.
Verificou -se, contudo, que as crianças e jovens com necessidades especiais nem sempre beneficiam do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, pelo que agora se define os requisitos que estabelecem o acesso ao mesmo.
Verificou -se, ainda, que os utentes infetados com o vírus do VIH/SIDA, relativamente aos quais está determinado que podem utilizar até seis cheques -dentista, podem apresentar novas necessidades de tratamento, pelo que, atendendo ao risco acrescido de problemas de saúde oral nestes utentes, são agora previstos ciclos adicionais.
Assim, ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 2.º e do n.º 3 do artigo 7.º da Portaria n.º 301/2009, de 24 de março, determino:
1 — O Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral (PNPSO) é alargado, passando a incluir:
a) Os jovens de 18 anos que tenham sido beneficiários do PNPSO e concluído o plano de tratamentos aos 16 anos;
b) Os utentes infetados com o vírus do VIH/SIDA que já tenham sido abrangidos pelo PNPSO e que não fazem tratamentos há mais de 24 meses;
c) As crianças e jovens de 7, 10 e 13 anos com necessidades especiais de saúde, nomeadamente portadores de doença mental, paralisia cerebral, trissomia 21, entre outras, que não tenham ainda sido abrangidos pelo PNPSO.
2 — O alargamento previsto no número anterior traduz -se:
a) Aos jovens de 18 anos que tenham sido beneficiários do PNPSO e concluído o plano de tratamentos aos 16 anos, é atribuído um cheque -dentista;
b) Aos utentes infetados com o vírus do VIH/SIDA que já tenham sido abrangidos pelo PNPSO e que não fazem tratamentos há mais de 24 meses, é possibilitado o acesso a um ciclo de tratamentos composto até dois cheques-dentista, que pode ser repetido com uma periodicidade não inferior a 24 meses;
c) Às crianças e jovens de 7, 10 e 13 anos com necessidades especiais de saúde, nomeadamente portadores de doença mental, paralisia cerebral, trissomia 21, entre outras, que não tenham ainda sido abrangidos pelo PNPSO, e na sequência de triagem promovida pela unidade de saúde do Serviço Nacional de Saúde:
i) É atribuído um cheque -dentista ou referenciação para Higienista Oral;
ii) Caso não seja expectável que a criança ou jovem colabore numa consulta de saúde oral, nomeadamente por ser necessário o eventual recurso a sedação, a referenciação pelo médico de família, através da Consulta a Tempo e Horas, para os serviços de estomatologia dos hospitais da sua área de residência.
3 — O presente despacho produz efeitos a 1 de março de 2016.
9 de novembro de 2015. — O Ministro da Saúde, Fernando Serra Leal da Costa

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

663. Prevalência das doenças orais diminuiu significativamente nas crianças e jovens

Os dados sobre a prevalência de doenças orais integram o relatório apresentado pela Direção-Geral da Saúde A Saúde dos Portugueses - Perspetiva 2015 (pdf). Os resultados dos novos estudos de prevalência das doenças orais entre crianças e jovens até aos 24 anos comprovam uma tendência de melhoria geral que abrange todas as idades.
A gravidade da cárie dentária na dentição permanente aos 15 e aos 18 anos tem vindo a diminuir consistentemente desde o ano 2000.
Aos 18 anos, os níveis de doença, medidos através do índice CPO – número de dentes cariados e extraídos por doente revelam uma quebra de 4,7 para 2,5. A percentagem de jovens com pelo menos um selante em dentição permanente, aumentou de apenas 19,8% para 29,3%.
O número de jovens com 15 e 18 anos com gengivas saudáveis praticamente duplicou de 21,1% para 41,8%, confirmando a importância que cada vez mais é dada à higiene oral, pois 96% dos jovens de 18 anos referem escovar os dentes todos os dias.
Já em março, os dados revelados sobre as crianças de seis e 12 anos mostravam uma redução da prevalência das doenças orais. Aos seis anos, 79% das crianças afirma escovar os dentes todos os dias, aos 12 anos são quase 90%
Para o secretário-geral da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Paulo Melo, “esta melhoria que se tem verificado na saúde oral dos portugueses mais jovens deve-se a três fatores. Em primeiro lugar, a existência de um programa público de saúde oral que inclui o cheque dentista e permite que os mais jovens sejam acompanhados regularmente por médicos dentistas. Em segundo lugar porque esse programa permite ensinar a prevenir as doenças orais e introduzindo o hábito de escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia e permitie também que estes jovens sejam tratados quando a doença ainda está no seu início. Depois, este estudo comprova a importância do papel dos médicos dentistas portugueses na saúde oral dos jovens portugueses e que estão no caminho certo no ensinamento dos cuidados preventivos e no tratamento dos casos de doença”.
Face a estes bons resultados, Paulo Melo considera “que deve ser estudado um alargamento do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral por forma a abranger mais faixas carenciadas da população. As consultas de medicina dentária são praticamente inexistente no Serviço Nacional de Saúde (SNS), e é por isso imperativo criar condições para que todos os portugueses tenham acesso a cuidados de saúde oral. Seja com a integração de médicos dentistas nos hospitais públicos e centros de saúde, seja através de convenções entre o Estado e os consultórios e clínicas privadas”.
Os dados sobre a prevalência de doenças orais integram o relatório apresentado pela Direção-Geral da Saúde ‘A Saúde dos Portugueses - Perspetiva 2015’ que evidencia a necessidade de haver uma abordagem, integrada, com as várias especialidades da medicina, na prevenção e tratamento das doenças que mais atingem os portugueses.
O relatório da DGS concluiu que a má alimentação é o fator que rouba mais anos de vida saudável aos portugueses, e como sublinha o secretário-geral da OMD “é também o principal fator de risco, a par do tabaco, para a saúde oral.
O médico dentista pode desempenhar um papel decisivo já que as nossas bocas refletem exatamente os alimentos que ingerimos com perigos graves para doenças como a diabetes e as cardiovasculares, que condicionam especialmente a saúde oral e também são condicionadas pelas doenças orais.
Há aqui um trabalho de promoção da saúde em geral que a saúde oral pode e deve desempenhar, dando um contributo muito importante para prolongar a vida, e sobretudo a qualidade de vida, dos portugueses”.